Líderes dos Brics reagem contra inclusão dos países do grupo entre os alvos de sobretaxas americanas
08/07/2025
(Foto: Reprodução) A primeira autoridade a se manifestar no Brasil foi o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Turismo, Geraldo Alckmin. Ele defendeu o diálogo com os Estados Unidos. Termina cúpula do Brics, no Rio
A ameaça de Donald Trump dominou as discussões no encerramento da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro.
Na reunião oficial, a agenda era outra. Mas, nos bastidores, a ameaça de Donald Trump movimentou a diplomacia do Brics. A primeira reação veio de Pequim. Lá, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores disse que a China é contra o uso de tarifas como ferramenta de coerção e pressão, e completou dizendo:
"As guerras comercial e tarifária não têm vencedores, e o protecionismo não é o caminho a seguir”.
A Rússia defendeu o Brics. O porta-voz do Kremlin afirmou que "o grupo tem uma visão de mundo comum sobre como cooperar, e que essa cooperação nunca será dirigida contra nenhum outro país”. A África do Sul também reagiu, dizendo que o Brics representa o esforço por um multilateralismo reformado, nada mais.
A primeira autoridade a se manifestar no Brasil foi o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Turismo, Geraldo Alckmin. Ele defendeu o diálogo com os Estados Unidos:
"O que nós defendemos é avançar no diálogo, como está sendo feito, e buscar mais alternativas para fortalecer o comércio exterior recíproco. Os Estados Unidos só têm a ganhar com o Brasil. Nós somos um parceiro muito importante , e os Estados Unidos também são um parceiro importante. É o maior investidor no Brasil".
O presidente Lula disse que, na reunião do Brics, os países não deram nenhuma importância para o assunto. Mas, ao final do encontro, ele reagiu à ameaça de Donald Trump:
"Um Presidente da República de um país do tamanho dos Estados Unidos ficar ameaçando o mundo através da internet não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperador. Nós somos países soberanos. Se ele achar que pode taxar, os países têm direito de taxar também. E é preciso que as pessoas leiam o significado da palavra soberania. Cada país é dono do seu nariz”.
O presidente voltou a criticar a ONU pela incapacidade na solução dos principais conflitos armados da atualidade. Disse que o órgão perdeu credibilidade e não toma decisões sobre o fim das guerras porque está envolvido nelas.
Líderes dos Brics reagem contra inclusão dos países do grupo entre os alvos de sobretaxas americanas
Jornal Nacional/ Reprodução
O próximo a presidir o Brics vai ser a Índia, considerada no grupo o país mais próximo do Brasil. Os dois países são candidatos a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Também são dois membros democráticos em um grupo que agora é composto por uma maioria de regimes autoritários.
Na mesa de reuniões, os líderes encerraram o encontro debatendo a cooperação nas áreas do clima e da saúde. Os 11 países vão incentivar parcerias para combater as doenças socialmente determinadas, também chamadas de doenças da pobreza - como a tuberculose, a dengue e a doença de Chagas -, que afetam principalmente os países em desenvolvimento. O objetivo é aumentar a pesquisa, a produção de vacinas e de medicamentos.
Na área de financiamento climático, o Brasil conseguiu incluir no documento uma referência ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, uma das principais propostas brasileiras para a COP 30, que vai ser realizada em novembro, em Belém. O documento diz que a iniciativa vai ser capaz de mobilizar financiamento de longo prazo para a conservação de florestas em pé. O Brics cobra as nações desenvolvidas para que financiem a adaptação às mudanças climáticas nos países mais pobres.
Segundo Vitelio Brustolin, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense, a pauta do meio ambiente foi o principal avanço conquistado pelos negociadores brasileiros:
“Os avanços da declaração ficaram ofuscados pelo posicionamento do Brasil e outros países em alinhamento a ditaduras, que hoje fazem guerras e promovem terrorismo e ameaças nucleares no mundo inteiro. Meio ambiente é a única pauta que o Brasil pode se destacar, justamente por ser reconhecidamente um líder na geopolítica ambiental no mundo inteiro, ter a maior parte da Amazônia no seu território e ser sede da COP 30, agora em novembro. Fora isso, das outras pautas que fizeram parte do Brics, não houve avanços significativos”.
Cobrar os países desenvolvidos, conduzir as negociações e receber milhares de convidados. O mundo todo volta a estar de olho no Brasil em novembro, na COP 30.
LEIA TAMBÉM
Após ameaça de Trump, ministro da Rússia diz que americano 'não esconde intenções' sobre Brics e que uso do dólar tem diminuído
Entenda a troca de farpas entre Lula e Trump após a cúpula do Brics
Encerramento do Brics tem nova 'foto de família' e sessão sobre meio ambiente, COP30 e saúde global; veja destaques do 1º dia
O que é o Brics e qual a relevância do encontro sediado no Brasil?