'O que o porteiro fez foi fundamental', diz especialista sobre caso de espancamento no elevador em Natal
02/08/2025
(Foto: Reprodução) Agressão no elevador: vítima fez cirurgia, agressor transferido e o depoimento do porteiro
O porteiro que percebeu, pelas câmeras de segurança, o espancamento da mulher que sofreu mais de 60 socos do namorado em um elevador de um condomínio em Natal e acionou a polícia teve atuação fundamental no caso.
É o que garante Amanda Sadalla, mestre em políticas públicas pela Universidade de Oxford e confundadora e CEO da organização sem fins lucrativos Serenas, que se dedica a prevenir as violências baseadas no gênero no Brasil, através da educação.
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O caso aconteceu em 26 de julho. O agressor, Igor Eduardo Cabral, de 29 anos, foi preso em flagrante, e teve a detenção transformada em prisão preventiva, após passar por audiência de custódia. Segundo a polícia, ele vai responder por tentativa de feminicídio. A vítima, de 35 anos de idade, sofreu múltiplas fraturas no rosto e no maxilar e passou por cirurgia, que ocorreu com sucesso.
Para Amanda Sadalla, o porteiro do condomínio onde ocorreu a agressão conseguiu identificar rapidamente que se tratava de um crime e entendeu o que precisava ser feito naquele momento ao acionar a polícia.
"O que esse porteiro fez, de identificar o que estava acontecendo, é fundamental. Ele poderia ver, achar muito grave o que estava acontecendo e não saber a quem recorrer ou como agir nesse momento", explicou.
O porteiro Manoel Anésio, de 60 anos de idade, foi o responsável por acionar a polícia ao perceber a agressão no elevador (veja o relato dele mais abaixo). Ele também pediu ajuda a outros moradores do condomínio para conter o agressor logo que o elevador chegou ao térreo.
Segundo Amanda Sadalla, é importante que profissionais que trabalhem com o público saibam o que fazer em casos de agressões e também como agir preventivamente.
"É preciso que eles estejam capacitados para identificar, acolher, fazer uma denúncia. Digamos que ele ouviu gritos. É preciso que ele entenda, por exemplo, como oferecer essa ajuda quando encontrar a vítima, que ele precisa oferecer essa ajuda longe do agressor", explicou.
Porteiro que ajudou vítima após espancamento em elevador em Natal
Kleber Teixeira/Inter TV Cabugi
Abordagem à vítima é importante
A ONG Serenas atua há quatro anos qualificando agentes públicos e colocando a prevenção no centro da agenda das políticas educacionais. Além da prevenção, o projeto capacita profissionais para o acolhimento em casos de violência de gênero.
A forma de abordar a vítima, segundo Amanda Sadalla, é algo importante. "Não perguntar 'o que ocorreu'. O ideal é dizer que sente muito pelo que aconteceu, perguntar se a vítima precisa de alguma ajuda, como pode ajudá-la", falou.
Ela lembra que há estados nos quais leis preveem que condomínios notifiquem casos de violência doméstica, mas que nem sempre isso é cumprido. No Rio Grande do Norte, essa lei entrou em vigor em 2020.
"Tem a lei, mas não tem a prática", citou a cofundadora do Serenas, Amanda Sadalla, explicando que muitos funcionários dos condomínios sequer sabem o que fazer nessas situações. "Não basta a lei sem implementação", pontuou.
Amanda Sadalla, cofundadora e CEO do Serenas
Isabella Santiago/ Banco Serenas
A especialista apontou que muitas vezes não há recursos investidos para capacitação dos profissionais e também falta "tempo para serem capacitados com frequência e vistorias para saber se estão oferecendo um bom acolhimento".
Amanda Sadalla lembrou que a Lei Maria da Penha é robusta e um marco muito importante, mas disse que a ONG Serenas atua em duas lacunas identificadas nos casos de violência contra a mulher: falta de prevenção e o atendimento às vítimas.
"Os meninos crescem aprendendo que controlar, agredir é uma forma de afeto, de amor. E a outra lacuna é em relação a quem atende as vítimas: a vítima é desacreditada, não é acolhida", explicou.
Ela citou que esse caso ocorrido em Natal é um "sinal claro que os meninos estão aprendendo a ser algo diferente do que queríamos".
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Porteiro acionou a polícia
O porteiro Manoel Anésio, de 60 anos, foi o responsável por chamar a polícia após o ex-jogador de basquete Igor Eduardo Pereira Cabral espancar a namorada no elevador de um condomínio em Natal. O profissional contou que nunca tinha visto uma cena tão violenta como essa.
"Nunca tinha visto esse tipo de coisa", disse. "Eu acho que qualquer um que estivesse aqui no meu lugar...faria a mesma coisa. Na nossa empresa a gente é treinado pra isso, tem esse tipo de experiência", disse em entrevista à Inter TV.
Porteiro denunciou agressão em elevador e chamou a polícia
O porteiro contou que viu uma movimentação no elevador e foi alertado por uma outra moradora, mas só percebeu com clareza o que estava ocorrendo quando a vítima se levantou.
"Ele estava dando soco nela e estava em cima, mas não dava pra ver que ela estava embaixo. Mas quando ela levantou, deu pra ver a cara ensanguentada. Aí abriu o elevador e ela saiu", disse.
Foi nesse momento que o porteiro Manoel Anésio ajudou a mulher e acionou a polícia em seguida. "Foi de imediato, eu chamei a polícia, rapidamente chegou e graças a Deus levaram ele", disse.
O porteiro disse que agora torce para que o caso não fique impune. "A justiça tem que ser feita. Uma situação dessa não pode ficar impune", falou.
Vídeo mostra agressões
O crime foi registrado pela câmera do elevador do condomínio. O vídeo mostra o casal discutindo e, quando a porta do elevador se fecha, Igor parte para cima da vítima e começa a desferir socos contra ela.
Mulher é agredida com mais de 60 socos pelo namorado em Natal-RN
É possível perceber que ele dá pelo menos 60 socos. A mulher ficou com o rosto completamente ensanguentado.
De acordo com uma amiga da vítima - que pediu para não ser identificada, o segurança do condomínio que via as imagens da agressão pela câmera do elevador acionou a Polícia Militar. Quando o elevador chegou no térreo o agressor foi contido pelos moradores e preso em seguida. A vítima foi levada para o Hospital Walfredo Gurgel.
Como denunciar
Saiba como denunciar casos de violência contra a mulher:
Polícia Miliar - telefone: 190. É quem atende as vítimas em situações emergenciais.
Polícia Civil - telefone: 181
Central de Atendimento à Mulher - telefone: 180. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. O serviço também pode orientar mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento.
Mulher é agredida com mais de 60 socos por namorado em Natal
Reprodução
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